Música em Debate de Agosto

Gilberto Gil e Paul McCartney inauguram temática voltada a lendas octogenárias da música

Com o final do recesso escolar, os clubes culturais do SINESP retornaram na última sexta, 5 de agosto, com a realização do Música em Debate. Dessa vez, o tema do evento – nomeado pelos professores mediadores Marcos Mauricio e Jean Siqueira como “As águas de 1942” – foi a obra de grandes músicos nascidos há exatos 80 anos, gênios da música popular como Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Nei Lopes e Paul McCartney. A ideia é que ao longo do semestre a obra de cada um desses patrimônios da cultura ocidental seja abordada em algum detalhe.

Carreira de Gilberto Gil é marcada por genialidade e forte posicionamento político

Gilberto Gil 80 anos

Para o primeiro encontro, Gil e McCartney fizeram a dupla da vez. O professor Marcos apresentou toda a discografia do músico baiano, separando-a por décadas e destacando suas parcerias com Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa, por exemplo no projeto “Doces Bárbaros” – diga-se de passagem, os quatro “bárbaros” recentemente assinaram o manifesto em defesa da democracia que circulou pelas redes sociais do país (afinal, nem todo bárbaro é um genocida corrupto e desumano). A incursão por esse trabalho levou à audição do clássico “Esotérico”, retirado de uma apresentação ao vivo de 1976.

Música Esotérico

Mas a primeira canção trabalhada no encontro foi “Procissão”, justamente por aparecer no álbum de estreia de Gil, chamado “Louvação”, lançado lá em 1967. A letra de “Procissão”, mostrou o professor Marcos, empreende uma crítica ao uso do discurso religioso que promete benesses no além da vida, mas que parece negligenciar as necessidades materiais das pessoas carentes aqui na terra.

Da década de 1980, o professor Marcos trouxe o reggae “A raça humana”, do álbum homônimo lançado em 1984. A bela poesia dessa canção teve inspiração em uma letra escrita por Caetano Veloso que trazia a expressão “ferida acesa” (da música “Luz do sol”, lançada um ano antes), o que levou Gil a iniciar sua poesia musicada com o verso “A raça humana é ferida acesa”.

De 1997, o álbum escolhido para ser representado foi “Quanta”, do qual foram ouvidas as canções “Pop wu wei” e “Pela internet”. A primeira, um samba com uma letra bem divertida trazendo um elogio ao ócio, dialogando com o princípio taoísta da não-ação, o wu-wei. Já a segunda, uma música mais eclética em relação ao seu estilo, chamando a atenção para o novo universo de globalização da informação proporcionado pela internet – e isso numa época em que a internet ainda começava a se expandir. Algo muito interessante a respeito da letra dessa canção, foi o fato, destacado pelo professor Marcos, de seus versos finais fazerem uma alusão explícita àquele que é considerado o primeiro samba gravado no Brasil, a música “Pelo telefone”, de 1916, creditada ao compositor Donga: a canção de Gil diz “o chefe da polícia carioca avisa pelo celular / que lá na Praça Onze tem um vídeo-pôquer para se jogar”, ao passo que a letra de Donga diz em seus primeiros versos: “O chefe da folia pelo telefone manda me avisar / que com alegria não se questione para se brindar”. E, claro, o próprio nome da música de Gil, ao apenas mudar a ferramenta de comunicação (o telefone pela internet), já deixava de início explicita sua homenagem.

Gilberto Gil Álbum Ok Ok Ok

E de seu álbum mais recente, “Ok ok ok”, lançado em 2018, o professor Marcos exibiu o videoclipe da música “Afogamento”, uma parceria de Gil com a cantora Roberta Sá, e também “Pela internet 2”, um reggae novamente explorando o tema do ciberespaço e da comunicação na era digital.

Paul McCartney manteve carreira exitosa mesmo depois do fim dos Beatles

The Beatles

Depois de um breve intervalo, foi a vez de o professor Jean apresentar a discografia do ex-Beatle Paul McCartney e compartilhar a audição de algumas músicas de sua carreira. Assim, desde o primeiro álbum de estúdio lançado pela banda de McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Star, “Please, please me”, de 1963, até seu último, “Let it be”, de 1970, os principais sucessos dos rapazes de Liverpool foram relembrados. Mas, para a audição, o professor Jean escolheu a canção “Helter Skelter”, do famoso “álbum branco”, de 1968, e “Golden slumbers/Carry that weight”, lançada no ano seguinte em “Abbey Road”. “Helter Skelter”, considerada a primeira música de heavy rock da história do gênero, teve seu nome associado aos assassinatos cometidos pela chamada “família Manson” em 1969, quando seguidores do desajustado Charles Manson chacinaram duas famílias em Hollywood – na ocasião, os assassinos escreveram “Helter Skelter” com o sangue das vítimas nas paredes das casas. Obviamente, só uma mente doentia como a de Manson poderia ver qualquer ligação entre seus crimes e a música/letra do quarteto e Liverpool. 

The Beatles 1968

Com o fim dos Beatles, McCartney investiu na carreira solo. Ainda com o grupo, ele compôs uma trilha sonora para o filme televisivo “The family way”, lançada em 1967. Desse álbum, o arranjo orquestral para “Love in the open air” foi escutado. Aliás, tempos depois o músico lançaria diversos trabalhos de composição para orquestra, mostrando toda a versatilidade de seu aporte musical.

De seu primeiro álbum solo, simplesmente chamado “McCartney”, de 1971, a breve canção folk “Junk” introduziu quem estava acompanhando o evento aos álbuns lançados sob o nome do músico. Nesse álbum, o ex-Beatle gravou todos os instrumentos em sua própria casa, contando apenas com a participação de sua esposa, Linda, nos vocais de apoio em algumas faixas.

Mas, a partir de 1972, McCartney e sua esposa formaram uma banda chamada “Wings” e com essa formação gravaram sete álbuns de estúdio (de 1972 a 1979). Dessa fase, o blues rock “Let me roll it”, do álbum “Band on the run”, de 1973, foi compartilhado.

Retornando a carreira solo em 1970, o músico inglês viria a lançar dezoito álbuns de estúdio, além de alguns outros projetos paralelos, como por exemplo “The Fireman”, com o qual lançou três trabalhos. Do álbum de 1983 “The pipes of peace”, foram apresentadas as músicas “Keep under cover” e “The man”, esta cantada em parceria com outro gigante da música pop internacional, Michael Jackson.

Filiadas no Música em Debate

Como destacou o professor Jean, as letras de McCartney, embora bem feitas estavam muito longe da qualidade da poesia, por exemplo, de Gilberto Gil, daí sua apresentação das canções ter se concentrado apenas em apontar o tema geral delas (geralmente um tema romântico) e comentar seus aspectos composicionais.

Ainda da década de 1980, a música “No more lonely nights”, tema do filme “Give my regards to Broad Street”, de 1984, toda composta por McCartney, certamente foi apreciada pelos ouvidos presentes: uma balada pop belíssima. O momento cômico ficou pelo fato de o professor Jean ter deixado seu microfone aberto por um momento e ter “brindado” os/as participantes com sua cantoria – Paul McCartney talvez tenha sentido seu ouvido doer lá de sua casa na Inglaterra...

Por fim, o professor trouxe o movimento final de uma ópera chamada “Liverpool Oratorio”, tocada pela Orquestra Real Filarmônica de Liverpool e cantada pelo coro da catedral da cidade, álbum lançado em 1991. Como o tempo voou, algumas outras canções mais recentes de McCartney tiveram que ficar de fora da apresentação, mas uma lista com todas as músicas escolhidas para o encontro, tanto de Gilberto Gil quanto de Paul McCartney, foi organizada e disponibilizada para todo mundo que participou do evento. (Também está disponível aqui o link para a playlist no Spotify e em breve uma playlist de todos os vídeos no YouTube. Deixamos aqui uma pequena amostra).

Foi um ótimo retorno que, dessa vez, já deixou anunciado o que vem por aí: a história da obra de mais alguns gênios da música que, embora contem com seus ricos 80 anos de vida, mostram uma imensa vitalidade e criatividade.

Filiadas Debatem Músicas em Clube do CFCL SINESP

 

Imagens: Divulgação

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