Os Gestores Educacionais e dirigentes do SINESP Denise Aguiar, Rinaldo Leite e Douglas Eduardo debateram com a  Drª Natália Pasternak as condições estruturais das escolas como impeditivo para a volta às aulas e as implicações clínicas de um retorno.

 O programa SINESP Diálogos visa a ampliar a ação do Sindicato, apresentando para discussão e debate temas atuais, relevantes e importantes para a categoria em transmissões ao vivo pelo Youtube e pelo Facebook.

Veja o debate:

A discussão considera diversos aspectos e dimensões do problema da volta às aulas. O primeiro deles é a falta de ação institucional através de um planejamento nacional que envolva as três esferas de governo, ministérios e secretarias.

O governo federal não criou uma linha específica de financiamento para educação em meio à pandemia. O MEC só manteve os repasses previstos, relacionados a transferências de recursos para apoio pedagógico — mas anunciados como apoio para compra de materiais de higiene — e merenda.

Depois de ter flexibilizado a quarentena precocemente, cedendo a pressões do empresariado, na última semana de junho o governo de São Paulo anunciou um plano para a volta às aulas. Propõe atitudes e protocolos genéricos para as escolas, aportados na experiência internacional, sem considerar as questões estruturais das redes estadual e municipais, que são bases para pensar num retorno.

Na esfera municipal, um complicador atual é a falta de diálogo, escuta, planejamento, negociação e as imposições de diretrizes decididas unilateralmente, o conhecido “cumpra-se!”. O que é extramamente grave porque a falta de verbas, de ações, de estrutura e de pessoal na RME já vem de anos.

A pesquisa feita pelo SINESP com os Gestores para compor o Retrato da Rede mostra há mais de uma década a precariedade de grande parte dos prédios, a falta de acessibilidade, a insuficiência de verbas para a manutenção e para as tarefas pedagógicas, de materiais de consumo, higiene e segurança.

Também denuncia os módulos de profissionais incompletos, com carência em todas as funções  presentes nas escolas, a sobrecarga de tarefas enfrentada pelos Gestores, o problema da violência e a falta de ações nessa área, a fraca formação oferecida pela SME, a limitação do apoio pedagógico e administrativo das DREs e, como consequência de tudo isso, o adoecimento crescente dos educadores, física e mentalmente.

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Nesse contexto foi analisada, nesse SINESP Diálogos, por três Gestores Educacionais que estão na linha de frente das escolas da Rede, uma realidade que, se não sofrer forte intervenção e tiver problemas estruturais solucionados, é impeditiva para um retorno às aulas sem que a pandemia tenha sido debelada e que medicamentos e vacina seguros tenham sido desenvolvidos.

Denise Aguiar abriu o debate relatando os inúmeros problemas estruturais, identificados antes da pandemia pelo Retrato da Rede e outros diagnósticos. A dirigente do SINESP ressaltou que, com a pandemia, todas as questões foram agravadas e multiplicadas. Assim, se faz necessário agora lutar por uma vida digna e plena para todos, que é o maior princípio do fazer como educadores. "O direito à vida é inviolável e aqui temos um grande divisor de águas entre a ética humana e a ética mercadológica", alerta.

Por isso que, segundo Douglas Eduardo, o retorno só pode ser considerado após garantias estruturais da SME. "Esse protocolo de Volta às Aulas só existe para escolas do PowerPoint. A escola real é muito diferente, é a que a gente apontou aqui", sublinha Rinaldo Leite. O dirigente destaca que a nossa rede é riquíssima e composta pelos melhores profissionais e o retorno só é possível se for dado à comunidade escolar o direito à voz na construção de todos esses protocolos.

Para completar e fortalecer a análise, o diálogo contou com o conhecimento e a experiência da Drª Natália Pasternak, Drª em microbiologia pela USP, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, autora do livro 'Ciência no Cotidiano', fundadora e primeira presidenta do Instituto Questão de Ciência. Ela também é publisher da revista Questão de Ciência e escreve para o jornal O Globo, para a revista The Skeptic UK e para o Genetic Literacy Project.

A especialista ficou impressionada com os relatos sobre os problemas estruturais da RME e considerou exíguo o prazo para as escolas se prepararem para a reabertura. Dada a realidade da rede, fica claro que uma volta sem riscos é impossível. "Todo o protocolo de volta às aulas foi pensado em uma escola idealizada, que aqui no Brasil encontramos apenas em escolas particulares da classe média alta", sinaliza. Para ela, a hora é de agir de forma mais comunitária possível, com muita transparência e diálogo, para buscar interações mais práticas, mais próximas da realidade.

Será preciso, segundo a bióloga, criar alternativas para diminuir os riscos de contágio, já que o governo não está promovendo testagem em massa. Qualquer plano terá que levar em conta algumas estratégias básicas para garantir o isolamento e o distanciamento. Uma ideia seria a formação de pequenos grupos de aprendizado, os chamados clusters, para que seja possível controlar eventuais casos de infectados. Esse grupo, com um ou dois professores, não poderia ter contato com outros grupos e outros profissionais de ensino da unidade. Outro ponto crítico identificado pela especialista foi o controle de entrada e saída para evitar aglomerações. A doutora indica que um treinamento para esse grupo de acolhimento seria necessário.

Além disso, outra equipe treinada precisaria estar focada em rastrear possíveis casos nas famíllias da comunidade escolar, por meio de contatos telefônicos, por exemplo. Em caso de suspeita, orientaria sobre o isolamento daquele estudante. Também será preciso limitar a circulação dentro da escola e, claro, garantir o efetivo distanciamento dentro da Unidade Escolar. "É muito pouco tempo para colocar essa logística em prática se a ideia é voltar em setembro", alerta.

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Veja participação da Drª Natália Pasternak no programa Roda Viva, da Rede Cultura, em que respondeu questões sobre a pandemia de coroanvírus em que deu diversas declarações alertando para o risco do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e, com outros pesquisadores, assinou um documento contra a liberação do medicamento.

 

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