Em meio à pandemia, a EMEF Coronel Luiz Tenório Brito propôs um curso de Formação para Docentes voltado à Educação Antirracista, a partir da articulação de uma professora negra que, com o apoio da gestão, fez a proposta ao Núcleo de Estudantes e Pesquisadoras Negras – Departamento de Geografia da USP (NEPEN), conta Flordelice Magna Ferreira, diretora da escola e dirigente do SINESP, além de psicóloga, membro do CRECE Central e do CACS FUNDEB. 

Após um diagnóstico para especificar o contexto do Tenório - como a escola é carinhosamente chamada pela comunidade -, o NEPEN promoveu encontros de formação para gestores e professores. Foram desenvolvidas várias dinâmicas que envolveram também o quadro de apoio, adesão considerada fundamental para o sucesso do projeto. Mais de 50 profissionais participaram da formação.

Assim, professores protagonizaram ainda mais atividades antirracistas com os alunos, ganhando rapidamente o engajamento e a simpatia da comunidade que, em peso, aproveitou o período de isolamento para repensar suas práticas e aprimorar ainda mais a educação com vistas à igualdade e à diversidade.

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Vidas Negras Importam

Diante da repercussão da morte do americano George Floyd e do Movimento “Vidas Negras Importam”, no Brasil e no mundo, a gestão, professores e todos da equipe escolar sentiram a necessidade de um posicionamento e de promover uma discussão sobre o tema com estudantes, famílias e comunidade, mesmo à distância devido ao momento de pandemia. 

"No mês de julho, produzimos e compartilhamos no Facebook o vídeo/manifesto Vidas Negras Importam, cuja construção contou com a contribuição de todos os segmentos da escola. Foram muitas conversas entre um grupo de professores para a escolha do texto, a divisão das falas e a música de encerramento", aponta a gestora Flordelice.

>>> Confira abaixo o Vídeo/Manifesto VIDAS NEGRAS IMPORTAM, realizado pelo Tenório 

Mesmo com as ações que a gestão já vinha tendo para tratar a questão racial, houve uma necessidade de entender melhor esse processo, até para aprimorar as práticas antirracistas na escola. "Não é possível falar sobre um projeto de educação antirracista se isso não fizer parte do processo de formação dos docentes", ressalta Flordelice.

"Havia a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o tema para empoderamento de todos, a fim de promover ações positivas nas relações e no espaço escolar, além das que já existiam", relata Nilva Santos Oliveira Monteiro, professora de Matemática do Tenório.

Assim, euma conversa informal da professora Nilva com a também professora Érica Ferreira, que faz parte do NEPEN, surgiu a ideia a princípio de uma conversa na escola, um diálogo sobre o Racismo.

NEPEN no Tenório

Com o apoio da gestão da unidade, a professora entrou em contato com o NEPEN (fotos abaixo), núcleo formado dentro da Geografia da USP que atua há mais de quatro anos pautando as temáticas que envolvem a geografia e as relações étnico-raciais, lutando contra o silêncio e apagamento das questões relacionadas à população negra e às relações raciais, e promovendo, entre outras atividades, cursos de formação de professores na rede municipal de São Paulo. 

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Já em junho iniciaram as tratativas para a realização da formação, que aconteceu em agosto deste ano de forma virtual.

NEPEN

"A ideia foi crescendo e se transformou em uma formação muito esclarecedora, enriquecedora, com apresentação de dados que foram fundamentais para entendermos onde a escola está inserida e as especificidades da comunidade local, com muito embasamento teórico, além de referências bibliográficas para subsidiar nossas reflexões e práticas cotidianas", lembra Nilva.

Como preparatório do curso, o NEPEN realizou um estudo da realidade, territorialidade e contexto da escola, que fica no Campo Limpo, zona Sul de São Paulo. "Diferentemente dos cursos promovidos pela Prefeitura, a grande sacada da formação dentro da Unidade Escolar é que mobiliza toda aquela comunidade", assinala Fabiana Luz, professora membra do NEPEN. 

A análise do território e mapeamento racial da comunidade escolar do Tenório, questões historiográficas, além de leis e diretrizes específicas para a questão pedagógica, foram ponto de partida para debates e questionamentos antirracistas que envolveram ativamente mais de 50 profissionais do Tenório, entre gestores, quadro técnico e professores.

Fabiana conta que no início houve uma certa resistência porque muitas pessoas ainda pensam que a educação antirracista é algo distante. "Durante a formação eles foram se abrindo para a questão racial", aponta.

Muito além da sala de aula

Amanda Moraes, membra do NEPEN e ex-professora do Tenório, hoje atuando em CIEJA, ressalta que a proposta é pensar numa educação antirracista além da sala de aula e o Tenório entendeu como essa responsabilidade precisa ser compartilhada com todos e todas da escola. 

Beatriz Pereira Silva, professora do NEPEN, reforça a necessidade da temática estar no ambiente escolar em todo o ano letivo, como já está acontecendo no Tenório. "Não é só em Novembro, tem que estar no Projeto Político-Pedagógico", frisa. 

"O que motivou isso tudo foi a necessidade de uma professora negra que contou com a sensibilidade da gestão para fazer essa formação. Por isso é tão importante a presença de profissionais negros ocupando todos os espaços, atuando nas salas de aula, na gestão das escolas", sublinha Amanda.

"O legal é que alguns professores estão desenvolvendo em paralelo muitas ações voltadas a uma educação antirracista", assinala Flordelice Magna: "Isso tudo faz com que os alunos se sintam ainda mais incluídos no contexto escolar e mostra que a escola não está de costas para eles".

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