Ocorreu, no dia 29 de setembro, mais uma edição do SINESP DIÁLOGOS, dessa vez com o tema “Mulheres Gestoras Negras – Desafios e Possibilidades.” Essa live, que abriu espaço para o debate sobre representatividade social e política na educação, é mais um ato comemorativo dos 30 anos do SINESP, recém-completados no último dia 26.

As Dirigentes Sindicais do SINESP Maura Maria da Silva, Edilene de Fátima Clemente e Regina Cleia Almeida receberam a filiada ao SINESP e Coordenadora Pedagógica na EMEI Globo do Sol, DRE São Miguel, Denise Rodrigues Mota Caetano, para uma conversa extremamente necessária ao dia a dia da RME, sobretudo em tempos de retrocesso como esses que o país enfrenta.

As quatro, com a participação preciosa dos presentes no chat, trataram de diversos assuntos relativos aos desafios e oportunidades encontrados pelas gestoras negras no cotidiano das Unidades Educacionais. Entre os assuntos debatidos, destacaram-se a importância da política de cotas para acesso ao ensino superior, a necessidade de se contar nas escolas a história dos povos africanos por outra ótica - que mostre o quão rico, cheio de beleza e sabedoria é o continente africano - e, antes disso tudo, foi debatida a importância das gestoras negras na formação dos jovens, uma vez que elas estão em uma posição privilegiada de contato direto com a formação de estudantes, posição de onde podem multiplicar uma educação antirracista que reforce a importância de ícones negros na construção da sociedade.

Empatia

Maura Silva abriu o encontro falando sobre empatia e enfatizando que ela é uma construção, que requer estudo, aprendizado. Para isso, reforçou ela, o SINESP cumpre a função de abrir debates que contribuam com o compartilhamento de conhecimento.

A Dirigente enfatizou que as gestoras negras “têm um local privilegiado nas mãos”, que reúne pessoas de várias etnias e localidades do Brasil e, assim, “uma oportunidade grande de trabalhar a ação democrática.” Maura ponderou que “o gestor escolar tem essa responsabilidade e o gestor escolar negro tem a obrigação de saber tratar essas discussões”.

“O Projeto Político Pedagógico tem que ter dentro dele a democracia, a questão das etnias, do preconceito, do racismo e [falando sobre isso] não estaremos fora da lei, porque temos leis que nos amparam”, reforçou a Dirigente do SINESP.

Maura afirmou que é muito importante envolver os pais nesse processo pois, segundo ela, a comunidade pode ajudar a gestão escolar, desde que tenha conhecimento. Ela ainda falou da oportunidade que os gestores e gestoras negras têm para trabalhar temas importantes, como o da educação antirracista, nas unidades educacionais das periferias: “Os nossos corpos negros ajudam bastante quando a gente chega numa escola da periferia e é reconhecido como um igual”.

Lei de Cotas

Edilene Clemente falou sobre a importância da lei de cotas para dar acesso à educação superior às populações pretas, sobretudo das periferias. Ela lembrou do racismo estrutural e ressaltou a dificuldade das pessoas em geral em aceitarem mulheres gestoras, sobretudo as mulheres gestoras negras: “As pessoas deveriam se despir desse preconceito”.

A Dirigente do SINESP foi taxativa ao lembrar da importância da educação no processo de combate ao racismo, sobretudo do papel das pessoas por trás do processo educacional: “Nós, educadores, independentemente do segmento, temos esse compromisso, essa responsabilidade com os nossos estudantes”.

Racismo no Brasil

A Dirigente Sindical Regina Almeida falou sobre a importância de trazer ao debate nas escolas um contexto histórico sobre a construção do racismo no Brasil. Ela falou sobre as diferenças com que foram tratados - no fim do século XIX e início do século XX - os povos negros, recém-libertados da escravidão, e os povos brancos, de imigrantes vindos da Europa. Regina lembrou que os colonos europeus receberam espaços do governo brasileiro para formar suas colônias e tinham direito a professores em suas línguas nativas. Situação muito diferente da enfrentada pelos povos pretos, que foram abandonados à própria sorte.

Regina apontou a importância da representatividade para as crianças pretas e discorreu sobre como o racismo estrutural e a falta de referências a incomodavam nos tempos de escola: “Sempre quis ser professora, desde a infância, mas não me sentia representada. Durante muito tempo a escola nos escondeu”.

A Dirigente Sindical ressaltou que é preciso levar para as escolas uma outra visão sobre a cultura africana: “A história do povo negro contada no Brasil é uma história que sempre nos diminuiu.” Ela enfatizou que antes de serem tirados da África à força esses povos possuíam reinos constituídos, sabedoria, livros escritos, conhecimento e reforçou que é preciso "empretecer" o currículo escolar: “Podemos trabalhar com nossos grupos essa representatividade”.

Ações afirmativas

A professora Denise Caetano reforçou a fala das gestoras do SINESP sobre a importância da lei de cotas para que o povo preto tenha acesso ao ensino superior: “A gente tem que pensar como uma oportunidade de acesso.” Ela prosseguiu: “Os nossos alunos acessam a faculdade por meio dessas ações afirmativas, que vêm reparar uma injustiça histórica”.  

Denise observou que a negação dos alunos à lei de cotas ocorre por falta de conhecimento e enfatizou que é preciso ensinar aos estudantes como foi que o povo preto chegou a esse lugar: “Nossos alunos precisam conhecer, para defender.” Ao falar sobre a necessidade de se debater a lei de cotas nas escolas, ela explicou: “Os alunos precisam saber que esse é um direito deles.” 

Denise também falou sobre a importância das relações que os professores estabelecem com as crianças negras e explicou que isso é fundamental para combater o racismo estrutural: “A gente precisa mostrar para as crianças negras que elas são belas, tanto quanto as brancas.” Ainda nesse tema, ela disse que é fundamental que os professores reconheçam e assumam a existência do racismo estrutural: “Negar o racismo não nos ajuda a enfrentá-lo”.  

Sobre os tempos atuais, ela reconheceu que houve avanços, sobretudo na mídia, ainda que muito aquém do esperado: “Nossas crianças, hoje, têm a oportunidade de ver um padrão de beleza igual ao delas.” Denise observou, entretanto, que ainda há muito a avançar, com a adoção pela sociedade de bonecas negras, livros da literatura negra, ações que mostrem a África por um outro viés: “É um continente rico, que tem belezas, que tem uma história de reis e rainhas. Quem são esses reis e rainhas?”

Por fim, ela enfatizou a importância que as gestoras negras têm na missão de construir uma educação inclusiva e antirracista: “Como gestoras negras, é um dever nosso trazer esse debate para a escola.”

AS DEBATEDORAS DO SINESP DIÁLOGOS

●A Profª. Denise Rodrigues Mota Caetano é pesquisadora das infâncias, Pedagoga, Pós-graduada em Educação Infantil e Artes com especialização em Educação em Direitos Humanos. Filiada ao SINESP, ela é Coordenadora Pedagógica na EMEI Globo do Sol, DRE São Miguel.

●A Dirigente do SINESP Regina Cleia Almeida é  Coordenadora Pedagógica na EMEI Amacio Mazzaropi, na DRE Guaianases. Pedagoga Pós-graduada em Gestão Escolar com Especialização em Comunicação não-violenta.

●A Dirigente do SINESP Maura Maria da Silva é Diretora de Escola Aposentada da RME e Profa. de História PEB II aposentada da Rede Estadual.

●A Profª. Edilene de Fátima Clemente é Assistente de Diretor de Escola da EMEF Arthur Azevedo, na DRE Penha, Pedagoga com Pós-graduação em Práticas Pedagógicas e MBA em Gestão Escolar.

Assista, no vídeo abaixo, à íntegra do SINESP DIÁLOGOS

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