O que já era ruim caminha para muito pior.
Com a volta às aulas "de qualquer jeito" dos governos e prefeituras e as novas variantes da covid-19 - associadas a fatores como desinformação da população e falta de uma política pública federal no enfrentamento da pandemia -, tem-se a tempestade perfeita para uma terceira onda, ainda mais avassaladora e letal.
As novas cepas do novo coronavírus já alcançam os mais jovens e pessoas sem qualquer comorbidade, inclusive com sequelas multissistêmicas que aparecem semanas após a contaminação.
Para piorar, a Rede Municipal de São Paulo queria fazer a reabertura sem ter sequer contratos de limpeza, colocando em risco todos que já estavam circulando em mais de 600 unidades educacionais da capital paulista para os preparativos.
A partir da denúncia do SINESP, inclusive à Imprensa, a SME teve que voltar atrás e suspender as aulas em parte da rede.
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Flordelice Magna Ferreira, dirigente do SINESP, conta que os relatos que têm chegado aos diretores das escolas são assustadores. "Pais que trabalham na área da Saúde que estão lá dentro dos hospitais compartilham a realidade que está sendo maquiada. São histórias de horror que deixam claro que as escolas não estão preparadas para abrir neste momento. Só que, infelizmente, mesmo sabendo disso, muitos pais acabam mandando os filhos para escola porque as crianças não têm o que comer. As famílias chegaram no limite", destaca.
Volta às aulas, surtos e fechamentos no ensino privado
A volta às aulas na rede particular já mostra sua face nefasta, com diversas escolas com surtos e fechamentos dias depois da reabertura. Já há registros de quebra de protocolos sanitários e aglomerações em unidades. Houve explosão de internações de crianças e adolescentes por Covid-19 nos últimos dias, associada à volta às aulas na rede particular, em um pico que não acontecia desde dezembro.
“Esse pico coincide com uma semana depois do início das aulas na rede particular, que voltou dia 1° de fevereiro”, diz o professor da Unesp Wallace Casaca, coordenador do Infotracker, sistema da Unesp e USP que monitora a pandemia no estado.
De acordo com dados colhidos pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), 278 professores que trabalharam presencialmente nas escolas na volta às aulas contraíram Covid-19.
"Enquanto o vírus estiver circulando, vão ocorrer casos em todos os grupos etários e inclusive em crianças", admite o especialista Marco Aurélio Sáfadi, presidente do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, que faz parte de uma comissão médica criada para orientar a volta às aulas no Estado de São Paulo. Para Sáfadi, as medidas de proteção adotadas fora da escola são fundamentais para garantir que as unidades continuem abertas.
Só que já é sabido por todos que a adesão da população às medidas de distanciamento tem sido muito baixa, e, em cidades como Araraquara, só o lockdown foi considerado capaz de conter uma terceira e avassaladora onda de contaminação. O decreto que limita a circulação de pessoas na cidade do interior paulista começa nesta segunda, dia 15 de fevereiro, e segue por 15 dias. A decisão foi tomada depois da confirmação que circulam na cidade novas variantes do coronavírus, as cepas de Manaus e Londres. Lá, as aulas presencias só estão permitidas em instituições de ensino técnico e superior voltadas à área da saúde, com os devidos protocolos sanitários.
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